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Foto do escritorVone Petson

Galeria de Arte do Sesc recebe exposição de ex libris

Atualizado: 16 de abr. de 2020


Laura Moreira. Ex Libris Daniel Colodzeiski – xilogravura

Entre os dia 02 a 31 de outubro a Galeria Sesc de Artes no Centro de Atividades do Sesc recebe uma grande exposição de 85 artistas de diversos países, intitulada “Ex Libris: Marca de uma Identidade” a possui a curadoria do artista André de Miranda, um artista carioca com um histórico de 40 anos como gravador.

A exposição é composta por 136 Ex libris, realizados em diversas técnicas de gravuras: calcogravura, xilogravura, linoleogravura, xilogravura de topo, gravura em relevo em PVC, gravura em metal e litografia. E como tal é uma excelente oportunidade para o público mergulhar no universo da gravura através do ex libris.

Afinal o que é um ex libris?

Ex libris é o nome dado para o rótulo – pequena gravura - que é colado no livro, indicando a sua propriedade. Etimologicamente, esta expressão se originou a partir do latim ex libris meis, que significa “dos livros de” ou “faz parte de meus livros”. Por meio do ex-libris é que os bibliófilos, ou os leitores que prezam os seus livros e se orgulham da sua biblioteca, costumam personalizar cada um dos seus volumes. A expressão — às vezes também se usava ex dono ou ex biblioteca — inscrita no corpo da obra seguida do nome do proprietário, indicava a sua proveniência. Com o tempo, foi se universalizando e sendo incorporada a diversas línguas, já com o hífen, substantivada e denominando a própria etiqueta — mesmo que os ingleses também a chamem de bookplate, os alemães, buchzeichen ou os holandeses, boekmerken.

É difícil determinar a origem exata do ex-libris, embora a necessidade de assinalar a posse do livro seja aparentemente tão antiga quanto o próprio, sendo registrada desde a Antigüidade: o Museu Britânico abriga, junto a uma caixa de papiros de cerca de 1400 a.C., uma plaquinha de cerâmica indicando que pertenceram ao faraó egípcio Amenófis IV. Entretanto, o emprego do ex-libris tal qual o conhecemos se estabeleceu de fato durante o Renascimento, com a difusão do livro tipográfico.

Com a crescente difusão do livro impresso, a partir do século XVI, e a conseqüente multiplicação dos leitores e das bibliotecas, foi se vulgarizando em toda a Europa o uso do ex-libris, antes restrito a ricos bibliófilos e instituições, atraindo desse modo o interesse de vários artistas. Assim, embora permanecessem, até hoje, algumas marcas mais rústicas de posse (manuscrita, ou carimbos e selos), o ex-libris foi paulatinamente, para além da funcionalidade, agregando um valor estético: difundia-se mais e mais o ex-libris artístico.

Augostinas Burba ( Estônia) Ex Libris Enzo Pellai – gravura em metal

Sua feitura passa a ser vista como um ramo da arte, espaço privilegiado da gravura em suas diversas técnicas. Tanto que se adotou para o ex-libris os mesmos critérios de medida e descrição utilizados na iconografia (suas dimensões sempre são dadas em milímetros, e eles são descritos primeiro pela altura, depois pela largura). O seu valor passa a ser avaliado de acordo com o renome e talento de quem o desenhou, gravou, imprimiu, com a composição e a harmonia cromática, com a qualidade do papel. E, como toda obra de arte, o ex-libris irá refletir uma época e suas circunstâncias, seus gostos e tendências, acompanhando as grandes mudanças sociais e culturais, adaptando-se a novas técnicas.

No final do século XIX o ex-libris deixa de ser apenas um objeto funcional, de interesse pessoal, com qualidades artísticas, e adquire valor e significado em si: torna-se objeto de estudo e de desejo, objeto de coleção. Aparecem os amadores, os especialistas, escrevem-se obras a respeito, estabelecem-se regras, criam-se clubes e associações de ex-librismo na Inglaterra, Alemanha e França. Essa febre acontecia justamente no momento em que as técnicas tipográficas se modernizavam, industrializando-se, e os ex-libris em sua maioria passavam a ser impressos. Ao mesmo tempo em que era melhor compreendido e apreciado, acrescentando inclusive valor comercial ao livro, o ex-libris começa a perder do seu prestígio por conta da banalização: para alimentar as coleções, por modismo, e graças à crescente automação das técnicas gráficas, passaram a proliferar ex-libris fabricados em série, deteriorando-lhes o valor e interesse. Subsistem contudo, mundo afora, diversas associações dedicadas ao estudo e colecionismo desse pequeno objeto que ainda apaixona especialistas e leigos pelo inegável prazer estético que proporciona e pelo tanto de subsídios que oferece para o estudo da história, da gravura, dos costumes, da bibliografia, da heráldica — a história do ex-libris integra, de fato, tanto a história da arte como a história do livro, sendo inesgotável fonte de interesse para ambas.

Referência: Prefácio de Ex-Libris - Coleção Livraria Sereia de José Luís Garaldi (SP: Ateliê Editorial, 2008)

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